29/12/09

"NATAL" de Miguel Torga


No seu livro "Novos Contos da Montanha", Miguel Torga oferece-nos um dos mais extraordinários e belos contos de Natal em língua portuguesa, senão o mais belo. Ora lê:

"De sacola e bordão, o velho Garrinchas fazia os possíveis por se aproximar da terra. A necessidade levara-o longe de mais. Pedir é um triste oficio, e pedir em Lourosa, pior. Ninguém dá nada. Tenha paciência, Deus o favoreça, hoje não pode ser - e beba um desgraçado água dos ribeiros e coma pedras! Por isso, que remédio senão alargar os horizontes, e estender a mão à caridade de gente desconhecida, que ao menos se envergonhasse de negar uma côdea a um homem a meio do padre-nosso. Sim, rezava quando batia a qualquer porta. Gostavam... Lá se tinha fé na oração, isso era outra conversa. As boas acções é que nos salvam. Não se entra no céu com ladainhas, tirassem daí o sentido. A coisa fia mais fino! Mas, enfim... Segue-se que só dando ao canelo por muito largo conseguia viver. E ali vinha de mais uma dessas romarias, bem escusadas se o mundo fosse doutra maneira. Muito embora trouxesse dez réis no bolso e o bornal cheio, o certo é que já lhe custava arrastar as pernas. Derreadinho! Podia, realmente, ter ficado em Loivos. Dormia, e no dia seguinte, de manhãzinha, punha-se a caminho. Mas quê! Metera-se-lhe em cabeça consoar à manjedoira nativa... E a verdade é que nem casa nem família o esperavam. Todo o calor possível seria o do forno do povo, permanentemente escancarado à pobreza. Em todo o caso sempre era passar a noite santa debaixo de telhas conhecidas, na modorra dum borralho de estevas e giestas familiares, a respirar o perfume a pão fresco da última cozedura... Essa regalia ao menos dava-a Lourosa aos desamparados. Encher-lhes a barriga, não. Agora albergar o corpo e matar o sono naquele santuário colectivo da fome, podiam. O problema estava em chegar lá. O raio da serra nunca mais acabava, e sentia-se cansado. Setenta e cinco anos, parecendo que não, é um grande carrego. Ainda por cima atrasara-se na jornada em Feitais. Dera uma volta ao lugarejo, as bichas pegaram, a coisa começou a render, e esqueceu-se das horas. Quando foi a dar conta, passava das quatro. E, como anoitecia cedo, não havia outro remédio sento ir agora a mata-cavalos, a correr contra o tempo e contra a idade, com o coração a refilar. Aflito, batia-lhe na taipa do peito, a pedir misericórdia. Tivesse paciência. O remédio era andar para diante. E o pior de tudo é que começava a nevar! Pela amostra, parecia coisa ligeira. Mas vamos ao caso que pegasse a valer? Bem, um pobre já está acostumado a quantas tropelias a sorte quer. Ele então, se fosse a queixar-se! Cada desconsideração do destino! Valia-lhe o bom feitio. Viesse o que viesse, recebia tudo com a mesma cara. Aborrecer-se para quê?! Não lucrava nada! Chamavam-lhe filósofo... Areias, queriam dizer. Importava-lhe lá. E caía, o algodão em rama! Caía, sim senhor! Bonito!Felizmente que a Senhora dos Prazeres ficava perto. Se a brincadeira continuasse, olha, dormia no cabido! O que é, sendo assim, adeus noite de Natal em Lourosa... Apressou mais o passo, fez ouvidos de mercador à fadiga, e foi rompendo a chuva de pétalas. Rico panorama! Com patorras de elefante e branco como um moleiro, ao cabo de meia hora de caminho chegou ao adro da ermida. À volta não se enxergava um palmo sequer de chão descoberto. Caiados, os penedos lembravam penitentes. Não havia que ver: nem pensar noutro pouso. E dar graças! Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiu-se, e só então reparou que a porta da capela estava apenas encostada. Ou fora esquecimento ou alguma alma pecadora forçara a fechadura. Vá lá! Do mal o menos. Em caso de necessidade, podia entrar e abrigar-se dentro. Assunto a resolver na ocasião devida... Para já, a fogueira que ia fazer tinha de ser cá fora. O diabo era arranjar lenha. Saiu, apanhou um braçado de urgueiras, voltou, e tentou acendê-las. Mas estavam verdes e húmidas, e o lume, depois dum clarão animador, apagou-se. Recomeçou três vezes, e três vezes o mesmo insucesso. Mau! Gastar os fósforos todos, é que não. Num começo de angústia, porque o ar da montanha tolhia e começava a escurecer, lembrou-se de ir à sacristia ver se encontrava um bocado de papel. Descobriu, realmente, um jornal a forrar um gavetão, e já mais sossegado, e também agradecido ao Céu por aquela ajuda, olhou o altar. Quase invisível na penumbra, com o divino filho ao colo, a Mãe de Deus parecia sorrir-lhe.
- Boas festas! - desejou-lhe então, a sorrir também.
Contente daquela palavra que lhe saíra da boca sem saber como, voltou-se e deu com o andor da procissão arrumado a um canto. E teve outra ideia. Era um abuso, evidentemente, mas paciência. Lá morrer de frio, isso vírgula! Ia escavacar o arcanho. Olarila! Na altura da romaria que arranjassem um novo. Daí a pouco, envolvido pela negrura da noite, o coberto, não desfazendo, desafiava qualquer lareira afortunada. A madeira seca do palanquim ardia que regalava; só de se cheirar o naco de presunto que recebera em Carvas crescia água na boca; que mais faltava? Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra, e sentou-se. Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência, ergueu-se e chegou-se à entrada da capela. O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a casa toda.
- É servida?
A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino também. E o Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira.
- Consoamos aqui os três - disse, com a pureza e a ironia dum patriarca.
- A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José."

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25/12/09

O Natal do Sr. Scrooge


Já leram “O Natal do Sr. Scrooge” de Charles Dickens? É um livro admirável. Neste livro, o Sr. Scrooge, um idoso muito avarento, é atormentado na noite antes do Dia de Natal por três fantasmas, que o visitam individualmente: o fantasma do passado – que lhe mostra episódios decorridos muitos anos antes; o do presente – que lhe expõe o que alguns contemporâneos pensam sobre ele e como vivem e, finalmente, o do futuro que fala sobre acontecimentos que poderão ocorrer se nada mudar. Ele deve abrir o seu coração para desfazer anos de maldades antes que seja tarde demais...


Partindo desta intemporal história, o realizador Robert Zemeckis regressa à temática do Natal em 3D, cinco anos após o sucesso de "Polar Express". Numa grande produção cinematográfica da Disney, Jim Carrey é o velho Scrooge, avaro e azedo que, em mais um Natal, faz a vida negra a todos os que o rodeiam. Um clássico intemporal. Lê o livro! Vê o filme!


16/12/09

15/12/09

"Por favor ajudem o mundo" parte II

Perguntas e respostas sobre a Cimeira de Copenhaga II

Quais são os "pontos quentes" da Cimeira?


O "ponto mais quente" da cimeira é a chamada "partilha de encargos". Ou seja, que países devem reduzir emissões e em que montante? Por exemplo, a China já superou os Estados Unidos como maior poluidor do mundo. No entanto, historicamente, os Estados Unidos são maiores emissores do que a China e as emissões per capita chinesas são cerca de um quarto das dos Estados Unidos. O Governo chinês argumenta que tem o direito moral ao desenvolvimento e ao crescimento da economia – e que, inevitavelmente, as emissões vão aumentar. Há ainda outra questão: os países desenvolvidos transferem as emissões de gases com efeito de estufa para as nações em desenvolvimento, ao instalarem nestes países indústrias que provocam emissões de CO2. Assim, a China defende que devem ser os consumidores a assumir a responsabilidade das emissões geradas para produzir certos bens e não os países onde são produzidos.


Perguntas e respostas sobre a Cimeira de Copenhaga I



O que é a Cimeira de Copenhaga?
Entre 7 e 18 de Dezembro, os ministros do Ambiente vão reunir-se em Copenhaga para a conferência do clima das Nações Unidos. O objectivo é “encontrar” um substituto para o Protocolo de Quioto. A cimeira vai ter lugar no maior centro de conferência da Dinamarca, o Bella Center e vai durar duas semanas. Esta é a última de uma série de reuniões, que tiveram a sua origem na Cimeira do Rio em 1992.

Principais protagonistas da Cimeira?
Os países em desenvolvimento, como a China e a Índia, defendem que países ricos como os Estados Unidos e o Reino Unido devem dar um "claro exemplo" na redução de emissões de gases como efeito de estufa. Os Estados Unidos não ratificaram o Protocolo de Quioto. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, argumentou que a redução exigida por Quioto (menos 5% de emissões) iria "arruinar a economia dos Estados Unidos", além de não exigir reduções aos países emergentes. As possibilidades de alcançar um acordo aumentaram com a chegada de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos. No entanto, o presidente enfrenta um problema interno, já que o Congresso ainda não aprovou legislação para reduzir as emissões de CO2. Caso isso não aconteça até Dezembro, pode colocar em causa um acordo em Copenhaga.

Quais os objectivos da Cimeira de Copenhaga?
A cimeira vai tentar alcançar um novo acordo que substitua o Protocolo de Quioto, que termina em 2012. Segundo Yvo de Boer, secretário executivo da United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC), as questões mais importantes para alcançar um acordo são:
Qual o montante de emissões que os países industrializados estão dispostos a cortar?
O que estão dispostos a fazer os principais países em desenvolvimento, como a China e a Índia, para limitar o aumento das suas emissões?
Que ajuda precisam os países em desenvolvimento para reduzir as emissões e adaptarem-se aos impactos das alterações climáticas?
Como é que o dinheiro vai ser gerido?

Vê aqui Os gases mais nocivos para o ambiente que provocam o Efeito de Estufa


13/12/09

"Por favor ajudem o mundo" parte I

No passado dia 9 de Dezembro, a cerimónia de abertura da Cimeira de Copenhaga começou  com a exibição de um  filme de sensibilização para as consequências do aquecimento global. “Por favor ajudem o mundo” tem cerca de quatro minutos e foi produzido especialmente para a ocasião. O filme foi realizado pelo dinamarquês Mikkel Blaabjerg.


11/12/09

Sugestões de Leitura*


OS SONS DA BIBLIOTECA de Roberto Piumini
A biblioteca: o silêncio, os sons, os livros que levam os leitores para um mundo muito para além da realidade.
Esses sons, que no silêncio da biblioteca se tornam mais intensos, fazem a história deste interessante livro. O seu autor, Roberto Piumini é um dos nomeados para os Prémios Astrid Lindgren.
* Com a colaboração da professora M.ª Emília Freitas

10/12/09

Prémios Nobel



Mais uma vez, hoje, dia 10 de Dezembro, decorrem as cerimónias de entrega dos Prémios Nobel 2009. Os laureados são personalidades que durante um ano se distinguiram em diferentes áreas tais como: a paz, a química e a física, a medicina e a literatura.

Podes acompanhar aqui a transmissão em directo de Oslo (Nobel da Paz) e de Estocolmo(restantes categorias).
Para saberes mais clica aqui e aqui.

07/12/09

Sugestões de Leitura*

VIAGEM A UM MUNDO FANTÁSTICO de Jostein Gaarder

O que há lá em cima para lá das estrelas mais longínquas?
Este livro fala-nos desse mundo que está para lá do Universo, o país de Sukhavati, e dos seus dois habitantes: Lik e Lak, os gémeos que não têm umbigo!
Lik e Lak ouvem falar de um planeta distante, a Terra, que lhes desperta grande curiosidade. E aí vão eles em direcção a esse planeta, na sua bola de cristal. Na Terra vão viver uma aventura que nos fará ver o nosso planeta de uma maneira diferente. Para eles, esta aventura terá um fim inesperado.
De que estás à espera para te deliciares com esta história emocionante?
*Com a colaboração da professora M.ª Emília Freitas

01/12/09

O Natal está à porta!



Decididamente...o Natal "está à porta"!
Como vem sendo hábito, podes visitar a Feira de Natal do CRE até ao final da semana. Aparece! Quem sabe se não vais encontrar lá uma prendinha para o sapatinho de algum(a) amigo(a)!

CONCURSO NACIONAL DE LEITURA


Não esqueças...  
As inscrições para o "CONCURSO NACIONAL DE LEITURA" terminam já no próximo dia 4. Inscreve-te com a professora de Língua Portuguesa ou no CRE.

Dia da Restauração da Independência


Hoje é dia feriado em Portugal. Comemora-se o Dia da Restauração da Independência, revolta iniciada a 1 de Dezembro de 1640, que pôs termo ao domínio do reino de Castela e devolveu o trono a um rei português.
Tens aqui um excerto do livro da colecção "Viagens no Tempo", das escritoras Ana M.ª Magalhães e Isabel Alçada"O Sabor da Liberdade", contando as aventuras de Ana, João e Orlando que chegam a Lisboa poucos dias antes da revolução estalar:
 «Só depois os conspiradores assomaram à janela e lançaram o grito da vitória:
— Viva el-rei D. João IV!
A resposta soou a uma só voz:
— Viva!
Seguiu-se um desvario indescritível. As pessoas abraçavam-se e, não sabendo o que fazer daquela alegria com sabor a liberdade, choravam copiosamente.
Os que há muito esperavam por aquele momento, os que já não tinham esperança de viver o suficiente para assistir, os que nem acreditavam que pudesse suceder, os que julgavam que lhes era indiferente, os que nem percebiam bem o que se estava a passar, saíram todos para a rua, engrossando a multidão que festejava na maior loucura o facto de Portugal ser livre outra vez!
Ana e Valentim andavam de braços para braços, agarrando-se a pessoas que não conheciam, roucos de tanto berrar.
— Viva el-rei D. João IV!
— Viva Portugal!
Apesar da excitação, o povo comportava-se agora de forma a causar assombro. Não houve roubos, nem desacatos, nem agressões. Ninguém aproveitou a confusão para vinganças pessoais, gozavam a hora da alegria, pondo de parte ressentimentos e ódios antigos. Da Sé saía uma procissão, as portas das cadeias abriram-se de par em par, os presos misturavam-se com o povo em delírio.
João debatia-se entre duas vontades. Gostaria de estar lá fora, mas também queria estar lá dentro para ver o que os companheiros íam fazer. Faltava dominar os soldados do Castelo de São Jorge, da Torre de Belém, dos navios ancorados no Tejo.»

in O Sabor da Liberdade, pp. 136-137
Aproveita a ocasião e lê ou relê  esta "Viagem no Tempo".

Dia Mundial da Sida

1 de Dezembro - Dia Mundial da Sida

"Acesso Universal e Direitos Humanos" é o slogan para o dia mundial de combate à Sida que  hoje se assinala. Segundo a ONUSida, em inglês UNAIDS,  a doença  mata quatro pessoas em cada minuto, ou mais de 5.700 por dia.
No mundo, cerca de 60 milhões de pessoas são seropositivas ou doentes de Sida, sendo que, por dia, aproximadamente 1.200 crianças com menos de 15 anos são infectadas pelo vírus VIH.
A África subsariana concentra dois terços das novas contaminações. Nesta região do mundo, mais de 22 milhões de pessoas vivem com o VIH/sida e a maioria dos infectados adultos são mulheres (61%).

O último relatório da ONUSida aponta que desde que surgiu a doença, morreram cerca de 25 milhões de pessoas e 60 milhões foram infectadas, mas, nos últimos oito anos, as novas infecções diminuíram 17%. Em Portugal, desde 1983, a doença já infectou quase 35 mil pessoas.
Para saberes mais podes ainda consultar a página da "Abraço".